Sonho brasileiro pdf
A indisciplina tendia a crescer, na medida em que o comando da companhia seria exercido por aquele que todos consideravam um antigo subalterno. Estavam enganados. Nem sempre conseguia honrar o compromisso no vencimento. A TAM ocupava dois hangares em Congonhas. Nos fundos, de um lado, situava-se a sala de Rolim. Para pagar as contas era preciso ter mais movimento.
Com liberdade, Rolim administrou a TAM do seu jeito. E muitos problemas internos. No final de , Rolim deu sua tacada. Mais que com os , Rolim voltou para o Brasil tendo iniciado um relacionamento com a Cessna que lhe foi de grande valor. Robustos, foram os primeiros de sua classe equipados com radar. Para eles os eram piores do que seus competidores, inclusive os Pipers Aztec que a companhia operava. Rolim, contudo, estava decidido. Numa empresa ainda pequena, mantinha-se na linha de frente, como nos tempos em que voava pela ATA.
Pilotava durante a madrugada, transportando jornais, cargas e malotes de empresas. Passou anos dormindo em sua mesa na TAM. Era uma forma de lhe prestar solidariedade. Por causa desse gesto, Americano realmente acabaria sendo um de seus amigos fraternos. Ao incorporar os , a TAM passou a ser um pouco mais respeitada. A TAM decolou devagar. O desafio de tirar a empresa do vermelho em um ano se cumpriu. E Rolim enxergava novas possibilidades. Funcionava com uma linha de Curitiba a Blumenau.
No Brasil, havia poucos. Precisava ter os seus jatinhos de qualquer maneira. E os teria. E acabara de comprar um Lear Jet novo em folha. Entraria em contato direto com o fabricante nos Estados Unidos. Havia dois problemas.
Para decolar, teve de encher os pneus. As bases da proposta eram simples. Vai assinar assim? Para Rolim, entrar na era do jato era fundamental. Precisava de uma receita regular, porque as despesas, essas sim, eram constantes.
E todas davam prioridade a cidades grandes. A FAB, por sua vez, os repassava aos aeroclubes. Contudo, era pouco. O trabalho foi. Uma delas, pela TAM. Para a VASP, eram pequenos demais.
Recebiam o tratamento do patinho feio. Envolviam debates com o Banespa, o Banco do Estado de S. Aproveitava-se de uma brecha no decreto que ajudara a redigir, permitindo tal manobra. O mercado ficou dividido. Rolim ligou para Braguinha. E que ele podia fazer o que quisesse. Orlando zangou-se, por causa da amizade que o ligava a Braguinha.
Houve outros desentendimentos. Eu quero te vender minha parte — respondeu Rolim. E que o usineiro novamente incorreria nos erros de antes, ao querer administrar a TAM sozinho. Precisava de Rolim, mas sob controle.
Eu gostava dele demais. Mimetizara Orlando mais do que supunha. Mudou o estatuto da empresa, empossou novos diretores, formando um conselho que segundo Rolim "nada tinha com a TAM".
Dois auditores da Usina da Barra passaram a integrar o conselho fiscal da companhia. Rolim chamou Daniel e afastou-o da TAM a seu modo.
E pediu que Daniel a tocasse. Magoou-se com Orlando. Fui leal". O governo congelara as tarifas num patamar muito baixo. O mercado todo ia mal. Valem Sem saber do que se tratava, levou consigo o violeiro Diogo, que o acompanhava, e o comandante Rubens Bombini, o Rubinho, piloto que o trouxera da usina. Orlando Ometto afundou na poltrona. Para eles, era o que contava. Os passageiros que vinham do interior ficavam na capital para passar a noite. Um pool de bancos segurava a TAM.
E o seguro venceu. Era Richard Hodger,executivo americano, que lhe vendera os Cessnas antes de se transferir para a Boeing. Dick, como era apelidado, estava no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, onde passaria o dia antes de seguir para Buenos Aires. Rolim era movido por frases de efeito. Leva esse recibo aqui.
A dor desapareceu como que por encanto. No futuro, Orlando se reaproximaria de Rolim. Rolim nunca se esqueceu da data: 13 de dezembro de Era esse o segredo que implantaria na TAM.
O ano de foi dedicado a reorganizar a TAM. Fincou nesse ano a linha mestra da TAM para sempre. Dispensou os advogados. Acreditava que uma companhia que precisa de advogados tem problemas demais. Era um modo de terceirizar atividades e ao mesmo tempo premiar aqueles de quem gostava.
Apesar disso, Rolim gostava dele e achava que lhe devia algo. Rolim queria algo diferente. Assim elas atuavam em duas frentes. Havia, ainda, um outro osso duro de roer. Rolim afastou todos. A partir do dia em que defenestrou os antigos conselheiros de Orlando, Rolim administrou a TAM como empresa pequena, mesmo quando se tornou grande. Decidia-se ali mesmo. Foi ao Comind. Segundo Rolim, ambos foram esnobados. Enfim conseguiu se voltar para o mercado. Nem podia ter equipamentos parados.
Quando um quebrava, toda a empresa entrava em colapso. E a frota era inadequada. Ela precisa ser horizontalizada. Tinha de mudar o perfil da empresa. Examinou as causas da queda do movimento. Ligavam de novo, a mesma coisa. Um parafuso que prendia o leme vertical se soltou. Precisava apresentar algo novo, verdadeiro.
E, com uma reforma completa, pareceria quase novo. Nem riscos. Esse dinheiro ficaria na Fokker, para que a empresa reformasse os aparelhos. Procurou Jorge Volney Atalla, da Copersucar. Atalla, mais uma vez, ajudou-o.
E o nome da pessoa que devia procurar. Rolim viajou e encontrou o homem que Atalla recomendara. O governo Geisel estava no fim. No dia seguinte, o hangarzinho "discreto e modesto" era fato consumado.
Estavam prontos havia seis meses. Assim, pagou suas contas e mudou o perfil da frota. O quarto F chegou em O Bandeirante era barulhento, sem as duas camadas externas dos aparelhos pressurizados. Muitos passageiros sofriam dores de ouvido. Ozires virou-se, viu o que era.
As turbinas eram Rolls Royce, inglesas. Os F transformaram a TAM. Permaneceriam em atividade mesmo depois de a companhia trazer os. Foi um sucesso. Chegaria a oito F em O movimento dos Bandeirantes tornou-se insignificante. Apesar disso, Rolim conseguiu. Foi preciso trocar o telhado e fazer uma ampla reforma, sem a qual o seguro sairia mais caro. Comportavam-se como quem precisa de um amigo. Gostava de destacar pessoalmente os bilhetes.
E conversava com eles durante a espera. Assim sempre podia aprender coisas novas. O cunhado, Daniel, era o seu curinga na companhia.
Era o diretor comercial. Em uma companhia pequena como a ATA, ainda conseguia desempenhar-se. Numa empresa maior e mais complexa, preferiu a sabedoria de deixar seu cargo executivo.
Depois, ofereceu um jantar. Nesse processo, contudo, o motor queimara. Via Embratel, convenceu a companhia holandesa a vender para a TAM um motor de reserva. Rolim e Tojal demonstraram que toda empresa tinha direito a ter motor de reserva. No fim de sua faxina, havia dez engenheiros na TAM e uma empresa organizada.
Todos os F eram alugados. Todos os 72 representantes da TAM foram terceirizados. E ele mudou o seu perfil. Examinava cada aparelho minuciosamente. E reclamava sempre que via os motores sem as capas ou detectava sujeira. Raramente jantava. Coma tudo. Muito obrigado—disse Rui. Na TAM, as mesas dos diretores sempre estavam limpas.
Para Ramiro Tojal, os aparelhos eram a mesma coisa que os velhos. Rolim, contudo, imediatamente se entusiasmou. Tojal voltou do Rio de Janeiro exultante. A gente desiste dessa porcaria e fica tudo melhor. No dia marcado, 7 de janeiro de , estava com Noemy e os filhos em Amsterdam.
Tinha dito aos holandeses da Fokker que gostava de realejos. Estava feliz. Os novos Fokkers chegaram ao Brasil no dia 10 de janeiro de O segundo aparelho recebeu o mesmo batismo de dona Lia, esposa do brigadeiro Waldir de Vasconcelos, ao lado do prefeito da cidade paranaense, Sincler Sampaio.
Rolim fizera o que queria. Veio o carnaval. Ao mesmo tempo, estava virtualmente falido. Quem devia sustentar a TAM era o cliente, o mesmo cliente que ele buscava seduzir a todo instante. Rolim decidiu abrir o capital. Procurou manter apenas as linhas de maior rentabilidade. Estava anunciado que a TAM abriria seu capital. Rolim abriu o capital da TAM dois anos depois, em agosto de Rolim nunca perdeu a empresa de vista, desde os anos , quando fora a Wichita comprar seus primeiros Cessnas ao assumir o comando da TAM.
Os mais pedidos eram Lear Jets e Mitsubishis. Empresas privadas utilizavam jatos executivos com regularidade.
Os aparelhos passavam boa parte do tempo ociosos. Os americanos ficaram frustrados. E vem falar de vendas? Hartnubring voltou para Wichita.
A companhia enviou um fax, concordando. E o cliente pagava apenas as despesas operacionais de rotina. Em , 15 anos depois, seriam O Brasil tornou-se o maior comprador de Citation depois dos Estados Unidos. Esse era o conceito novo que ele introduzia no mercado, inclusive para a Cessna.
Era a ele que o cliente seria fiel. Ainda assim, Rolim teria de brigar muito. A ditadura militar dava sinais de chegar ao fim.
Manteve na Fazenda o sobrinho de Tancredo, Francisco Dornelles. Em cinco meses, Dornelles caiu. Para piorar, como em outros setores, a demanda explodiu. Relatou suas dificuldades. E ainda assim continuava devendo.
Reduziu pessoal, diminuiu a oferta, encolheu a estrutura. Sabia que continuaria perdendo dinheiro, mas pelo menos perderia menos que os outros. Era assim que eu era tratado. Na crise, a TAM se preparava para o lucro. Algumas empresas regionais entraram em dificuldades. Em meados de , comprou a Votec. Concentrou os F na TAM. Rolim, contudo, fazia da coragem o seu capital. Em sua equipe, Rolim tinha estrategistas e executores. Diversas vezes ao dia, entrava na sala de Tojal para discutir o que fazer.
Seu cargo era tomar a iniciativa e deixar que cada um dos diretores cumprisse um papel, conforme sua especialidade e temperamento. Aos olhos dos subordinados mais graduados, contudo, esse estilo preocupava. Rolim tratou de aproveitar o Cruzado enquanto durou, da forma como podia. Em fevereiro de , o Plano Cruzado implodiu.
O dique do congelamento vazou por todos os lados. O ministro Funaro foi defenestrado junto com o segundo plano. Com isso, a Varig estaria satisfeita. O Plano Bresser seguiu seus antecessores. A vida se tornara um vendaval.
Mas se me chamarem de mau piloto, eu brigo". Os recibos eram assinados na mesa do bar em guardanapos de papel. Por isso, carregava uma certa melancolia dos tempos de piloto e.
Por causa dessa sombra, Rolim chegou a fazer um acordo com Olacyr de Moraes. Como dono de empreiteira, Olacyr dependia tanto do governo quanto ele. As energias da companhia tinham sido minadas. De a , a TAM viveu sem perspectiva. Tudo piorou depois de um desastre real. Em , um F acidentou-se gravemente ao pousar em Bauru. Passou entre as casas de uma vila, perdeu a primeira asa, depois a segunda. Para completar, Rolim perdeu um colaborador fundamental, o brigadeiro Pamplona, que, aos 79 anos, cansado, decidiu retirar-se.
Nessa hora, contudo, a antiga centelha de Rolim voltou. Vai ser mais respeitado. Representavam ainda o melhor de sua frota. E passou a oferecer pontualidade. Enquanto esperavam na fila da ponte, os passageiros assistiam os clientes da TAM embarcar na sala ao lado, o que ajudou a aumentar a. No fim das contas, Rolim competiu com os Electras.
Aos poucos, o movimento cresceu em Congonhas. A TAM abriu-se aos passageiros como um voto de protesto. Rolim entusiasmou-se. Azul, vermelho e branco. Rolim chamou novamente o consultor Teixeira de Barros. Quando o DAC abria uma janela a Rolim, fechava em seguida a porta.
Rolim, no entanto, sentira o gostinho do sucesso. Sabia agora que quando lhe era dada a oportunidade, ainda que inferiorizado, conseguia andar na frente dos outros. A companhia ficara mais conhecida e ele queria a todo custo ir adiante.
Aquilo, claro, despertou o apetite roliniano. Mantinha hasteado seu velho atrevimento. Acima de tudo, colocava o sonho — o sonho de ter uma companhia grande. E mostrar o caminho certo. Era tudo o que ele queria. Primeiro, o Fokker era diferente — Rolim gostava de ser diferente.
Por fim, Rolim passara a ser respeitado na Fokker. Sim, traria os Fokkers de qualquer modo, ainda que fosse contra tudo e contra todos.
Ou usando a "credibilidade", como preferia dizer. O perfil do candidato agradava ao empresariado. Sua prioridade era a VASP e sonhava trazer o Fokker para transformar a estatal, depois de privatizada. E foi o que fez. Antes de mais nada, Rolim continuava piloto. E todo piloto quer operar jatos. O "velho diabo" foi convidado mais uma vez a tirar o seu pijama.
Por fim, como outros diretores da TAM, Pamplona desconfiava da capacidade da formiga em dominar o elefante. E contava com seu carisma para resolver quaisquer problemas que pudessem aparecer.
E que deixassem privatizar a VASP. Frustrada a tentativa, Rolim passou para a alternativa seguinte. Isso sempre fora um problema. Nem aquilo afugentava Rolim. PC Farias era velho amigo de um homem a quem no passado vendera tratores, Wagner Canhedo. Quatro fizeram propostas concretas.
Uma era a TAM. A outra era a empresa de Canhedo. O BCN disse que desistia. Rolim sentiu-se abandonado. Rolim se recusava a ouvir: queria a VASP de qualquer jeito. Sem saber que tratamento receberia caso comprasse a VASP, desistiu.
Miguel conhecera Canhedo quando trabalhava no Comind. Ligou para ele. Wagner, estamos pagando caro por esta empresa. Vou te fazer uma proposta. Canhedo, contudo, parecia disposto a pagar, mesmo caro. Leia esta carta. Precisa me fazer este favor — insistiu Canhedo. Remoeu o fato de que fora ele quem mais trabalhara politicamente para privatizar a VASP. Mais: perdera a disputa para Canhedo.
Tinha mais 30 dias para pagar o resto. E os bens foram considerados suficientes. Avisa o Rolim que eu quero comprar antes. Ele me vende a TAM ou eu a liquido. E para seu principal agente: PC Farias. Rolim era um dos homens mais bem informados do mercado. Pelo menos, das que podiam aparecer. Embora nascido ao acaso, o nome pegou. Rolim acreditava e tentava demonstrar que Canhedo era testa-de-ferro de PC. Como dissera, iria tirar da derrota a energia para crescer sozinho. E reafirmaria seu caminho, que era o caminho do mercado.
No entanto, apropriar-se de sua rede de rotas significaria a chance de ocupar rapidamente o mercado. O plano de Rolim para a antiga estatal era completamente diverso do que Canhedo implementou na companhia. Sem a VASP, teria novamente de lutar contra o sistema.
Rolim sairia do zero para dois jatos. Em tecnologia, isso significava que a TAM daria um salto de para O Fokker original, que voara pela primeira vez em , era um pouco diferente daquele que traria para o Brasil. A Fokker introduziu no aparelho usinas de energia extra para poupar o sistema de ar condicionado. No dia seguinte, o desenho que defendia "venceu". Em comprimento, superava o Boeing Mesmo assim, o DAC lhe deu destinos diferentes dos que havia pedido.
Acumulou seis parcelas atrasadas do pagamento pelos Fokkers Tony Ryan! E fundaria a Ryan Air, a maior companhia de low fare tarifa popular da Europa.
Durante a viagem, Tojal preparara Rolim para o pior. Ou que estava descolado da realidade. Rolim levava na mala uma caixa de pedra para charutos, que Tony apreciava. Tojal comprara um porta-canetas para Sean Dolland, o vice- presidente. Ryan de bom humor. Parecia um grande blefe, mas Mr. Ryan, embalado pelo entusiasmo de Rolim, deixou-se envolver pelo seu canto de sereia. Do ponto de vista financeiro, Rolim e Tojal tinham cavado um buraco ainda maior.
Ao verbalizar diante de Mr. Ryan por que ainda acreditava na TAM, Rolim como que convencera a si mesmo. Era a hora de aparecer o lutador. Achei que o mercado saberia o que era o Fokker Rolim escolheu sua arma para lutar.
Apesar de tudo, Rolim continuava acreditando na sua capacidade de convencimento. Iria conversar com todos os clientes, um a um, para explicar o que estava acontecendo. Ao tomar a iniciativa de conversar com os passageiros, Rolim dizia que descobrira o "mundo encantado" do cliente. Tinham adorado a viagem. No entanto, aquilo para ele era natural.
Gestos que para outros pareceriam extravagantes nele faziam sentido, pelo menos para quem conhecia seu temperamento. Para quem passara o que ele passou, receber o dono do maior grupo privado brasileiro representava o mesmo que ser visitado por Jesus Cristo. Rolim podia comportar-se de forma teatral, mas de uma maneira ou outra sempre estivera ao lado do cliente. Mais uma vez, Rolim fazia dos passageiros seus amigos.
Tudo o que fazia era notado. Definia Rolim: "Quando a pessoa liga, o setor de reservas tem de atender. O cliente faz a reserva e vai para o aeroporto comprar o bilhete. Quando se acomoda no assento, ele reclina sozinho. Contabilizava o tempo de espera na reserva.
O comandante exultava. Seriam os passageiros que queriam voar com a TAM. Restava saber quando ela se manifestaria em algo mais: no faturamento. Era preciso imaginar um jeito de convencer o DAC a permitir que os dois Fokkers operassem no Brasil.
Ou a rifa do Opala que lhe permitira consertar o seu Cessna no tempo da Codeara. A diretoria da TAM passou quatro dias descansando. O Fokker- tomou embalo. O tratorista, ao ver o que estava acontecendo, brecou na expectativa de segurar o aparelho. O Fokker, agora livre, continuou seu caminho.
O Fokker foi fotografado, ridicularizado, humilhado durante os dois dias em que esteve literalmente no buraco.
Rolim foi ao DAC implorar. Em dias, chegou o segundo. Explicou que em a tarifa seria reajustada e as coisas iriam melhorar ainda mais. Relembrou o motivo pelo qual escolhera o Fokker Faria uma corrida por fora. O outro descobre que esse passageiro pagou menos pela passagem. Oferece dinheiro. Com ganhos de escala, diminuiria os custos. Por isso, o passageiro tinha de ser bem atendido e receber o que de melhor a TAM oferecia. Pagava mais caro, mas ali a companhia dava valor ao seu dinheiro.
E esse era um sentimento verdadeiro. Assim, diretores da TAM podiam ser vistos carregando malas quando faltava gente na pista, ou na cozinha quando havia algum problema com a empresa encarregada da comida de bordo. Pilhara-os deixando de atender um telefone que tocava, num fim de semana de pouco movimento. Quando ganhava chocolates, balas e doces, mandava imediatamente as guloseimas para o seu pessoal, como exemplo de uma nova possibilidade de agrado ao cliente.
Valia tudo. Certa vez, recebeu uma caixa de rapadura. O "marketing", na verdade, era ainda um departamento bastante familiar. Em geral, Rolim vivia inventando coisas que perturbavam a rotina. Os cuidados se estendiam a tudo o que o cliente podia ver. Mandou pintar de branco todo o equipamento de terra. Preferia pintar o material de outra cor.
Tem de estar realmente limpo. O dentista viria em primeiro lugar. Para voar, os passageiros precisavam identificar-se muito fortemente com a companhia. Rolim, diariamente, examinava todos que encontrava pela frente.
Detestava roupas amassadas. Penteava-se sempre com o cuidado de quem preserva seus implantes. Elas deviam trabalhar de cabelo preso. Para Rolim, o cabelo solto desuniformizava a equipe e transmitia uma imagem de excessiva informalidade ou desleixo. O tipo de maquiagem fazia parte do uniforme. E serem gentis como gueixas. O maior era o Como estava sempre no aeroporto, Rolim assumia ele mesmo muitas vezes as tarefas dos atendentes.
Quando Falco ou outro diretor destacava os bilhetes em seu lugar, ficava de mau humor o dia inteiro. O que fazer?
E que, agindo dessa forma, sempre tinha retorno. Percebo que estou no caminho certo sabe quando? Quando as pessoas me mandam cartas. Entretanto, tal dia aconteceu isso e isso'. Enquanto implantava sua filosofia de trabalho, Rolim aos poucos via o reflexo no caixa. Rolim teria de pegar carona no jogo dos grandes. Estavam mais ocupadas brigando entre si.
O ambiente na era Collor indicava. Mais uma vez, tentou aliar-se a Rubel Thomas. Fez que seu vice-presidente, Ramiro Tojal, pegasse uma carona com Rubel Thomas no final do encontro. Percebo sinais de credores assustados. Veio a resposta menos esperada. Quero ver o Canhedo me pegar. A primeira fecharia as portas.
A segunda lutaria para sobreviver, depois de abandonar as linhas internacionais. E a TAM, Riosul e demais companhias antes consideradas regionais ficariam prioritariamente com as chamadas linhas especiais, rotas diretas entre capitais, a partir dos aeroportos centrais, operadas com jato. O Fokker tinha direito de decolar em Congonhas e pousar na Pampulha.
Tudo o que Rolim queria. As companhias americanas exultaram. Rolim viu sua profecia prestes a se realizar. Contudo, achava que aquilo dava muito trabalho. Passou a andar mais de motocicleta.
Andar de motocicleta era uma forma de estar sozinho. As longas horas na estrada, no casulo do seu capacete, obrigavam-no a pensar e revisar sua vida. Rolim regressara em seu novo Bonanza e Athos num Cessna Vinham pousando pelo caminho. Primeiro, Guadelupe, no Caribe. Depois, Boa Vista, em Roraima. Em seguida, desceram em Sinop, no Mato Grosso. Decolaram cedo no dia seguinte. Tendo parado seus estudos aos 12 anos, Rolim nunca foi o pai que cobrava o boletim.
Com os mais velhos, essa manobra foi bastante favorecida pelo trabalho. No entanto, teria ainda a oportunidade de ser o pai que nunca antes pudera ser. Acabou por reconhecer oficialmente a paternidade de Marcos quando o menino tinha quatro anos. Levava o menino para a sede da TAM, onde ele jogava basquete pelos corredores da companhia.
Ao crescer, Marcos passou a acompanhar Rolim em suas viagens de motocicleta. Assim, ficou com as terras por dez anos. Quando Rolim disse a Athos que gostaria de comprar uma fazenda no sul do Mato Grosso, o amigo sugeriu que comprasse a parte de Olacyr. Quando resolvia fazer alguma coisa, logo criava planos ambiciosos. Visitava os amigos para ver o que faziam e tratava de fazer melhor.
Rolim soube e foi visitar seu haras. Certa vez, Rolim perguntou a Gonzaga Marins,. Ele gostava de passar ali algum tempo. O que mais gostava de fazer na TAM era aproximar-se das pessoas. Rolim descobrira o seu caminho e mergulharia nele com todas as energias. Sem discutir, fez o checkin. Sobretudo, admirara Umberto pelo desprendimento de autorizar o embarque de um passageiro acreditando simplesmente em sua palavra. Nunca se esquecera dele. E que fizessem por quem escolhera a TAM algo que nunca seria esquecido.
E fidelidade. Para ele, o passageiro era sempre o "cliente": aquele que volta. Ali eram lidas as cartas e atendidos os telefonemas para o comandante. As pessoas queriam falar. Rolim respondia tudo.
O "Fale com o Presidente" aos poucos transformou-se num radar por meio do qual Rolim controlava a companhia de uma forma completamente diferente. A sua rotina mudou. Transformava-se em um resolvedor de problemas dos clientes. Fazia pequenos consertos.
Resolvia querelas. Dava a garantia de que o presidente estava ali para resolver tudo. Rolim, que estava a bordo, levantou-se e foi ver o que acontecia.
Era, definitivamente, um pedido dos clientes. E tem de dar no joelho. Falco passou o problema para Marilu, do marketing. Depois de estudar profundamente o caso, a costureira que fazia os uniformes da TAM criou um novo modelo, com uma saia dotada de fenda lateral. Muitos passageiros juravam que podiam ver realmente a calcinha vermelha.
O que mais temia, e combateria em toda sua carreira, era o inchamento e o imobilismo das empresas. Com Rolim era diferente. Por isso, criei o 'Fale com o Presidente'. E, se o cliente mandava na TAM, Rolim em pessoa era o seu delegado, para ter certeza de que seu pedido fosse satisfeito.
Esse cliente merece respostas positivas. As linhas diretas entre capitais, a chamada "rede especial", passaram a ser sua prioridade. Com seis jatos, aTAM saltaria para 3 mil passageiros transportados por dia.
Toronto, Barcelona, Los Angeles, numa verdadeira corrida pelo mundo. Nem desse dinheiro dispunha. Rolim provava um gostinho especial. Crescia num mercado em que todos os outros iam mal.
Depois do treinamento, colocou-os nos Fokkers que trazia para o Brasil. Com isso, poderia fazer uma viagem a mais. Sua receita quase duplicou. Agora era a TAM que levava vantagem no mercado interno. Os Fokkers da TAM passaram a voar com uma enorme boca verde- amarela no bico. Dali em diante, Rolim passaria sempre a encomendar pinturas em seus aparelhos. Os encontros com os passageiros na sala de embarque se tornaram festivos.
Podia ser o pianista Pedrinho Mattar, um quarteto de cordas, um grupo de jazz ou Nhozinho, sanfoneiro que Rolim mandava trazer da cidade mineira de Ituiutaba. Aproveitava para satisfazer seus gostos pessoais. E ele encontraria, para isso, seu parceiro ideal. Rolim passou a gostar de Mauro, sobretudo por ele ter compreendido que o comandante era a coisa mais interessante da TAM.
Aquilo era perfeito para a TAM. Mauro jamais pertenceu ao conselho da TAM. Mesmo no exterior, havia exemplos. Ou seja, manter-se fiel. As iniciativas de marketing profissionalizaram-se. A Brahma passou a ser fornecedora exclusiva de cerveja da companhia. Uma delas foi o Passageiro Fantasma. O caminho da "TAM do Rolim" estava pavimentado. Rubel e Rolim ouviram Canhedo, mas as coisas tinham mudado.
Fernando Henrique fora uma aposta certeira de Itamar. No aeroporto, procurou eliminar a fila. Integrava 70 aeroportos, dois deles no Paraguai. Tirava as quintas ou sextas-feiras para visitar as bases.
Rolim abria e encerrava cada encontro, de maneira a dar um exemplo vivo da sua cultura de trabalho e manter o pessoal motivado. Apesar de seu jeito impositivo, Rolim era, ao mesmo tempo, cativante.
Ao mesmo tempo que obtinha a fidelidade do cliente, o cliente obtinha a sua. Rolim o interpelava, querendo saber quando iria ao barbeiro. Na verdade, gostava do seu cabelo comprido.
Um dia, Rolim o chamou em sua sala. Comesse devagar, era descartado. Teve de publicar um meio-desmentido. Com o tempo, Rolim se tornou um homem controvertido. Comparecia somente a casamentos, ainda assim de "gente muito chegada".
O rigor de Rolim em certos aspectos passou a ser levado a extremos. Era um narcisista diferente. Acompanhado do ex- governador paulista Paulo Egydio Martins, Rolim parara diante de um repentista, que cantou alguns versos de improviso. Falava do seu jeito e os outros que tratassem de. Era o pai que explodia e depois se arrependia.
Procurava cativar o interlocutor, procurando se colocar logo como amigo. Eliminava seus mecanismos de defesa e, no final, dava o bote. Rolim ainda mantinha o velho costume da tribo. Respeitava os pilotos que voavam melhor que ele. Em , levara-o para trabalhar numa empresa que fundara nos Estados Unidos, a First Aero Service, com sede em Miami. Para completar, Miguel era seu companheiro constante de farras.
Inquieto, temperamento agitado, preferia ir a campo, realizar. Era um provocador. Em , em Wichita, numa das visitas em que procurava cultivar seu relacionamento com a Cessna, foi convidado para um jantar. Acreditava na liberdade, nas virtudes da livre iniciativa. Falava como quem estava habituado a praticar o velho ditado. O governo, quanto menor, melhor. Nem pessoas que o tinham ajudado recebiam esse favor. Rolim era capaz de extremos. E mais: desclassificava quem pedia.
Achava que o carisma estava acima do bem e do mal. E fazia vista grossa quando se aproveitavam dele. Algumas verdades o deixavam de mau humor. Dirigia-se a todos por qualificativos. Pamplona era o "brigadeiro Pamplona". Gostava de se vestir bem, embora se vangloriasse de estar sempre elegante com roupas supostamente baratas. Discutia centavos com vendedores. Discutiu com o vendedor. Tudo isso na mais absoluta discricao, esforcando-se para ficar longe dos holofotes.
A formula de gestao que desenvolveram, seguida com fervor por seus funcionarios, se baseia em meritocracia, simplicidade e busca incessante por reducao de custos. Uma cultura tao eficiente quanto implacavel, em que nao ha espaco para o desempenho mediocre. Por outro lado, quem traz resultados excepcionais tem a chance de se tornar socio de suas companhias e fazer fortuna.
Sonho grande e o relato detalhado dos bastidores da trajetoria desses empresarios desde a fundacao do banco Garantia, nos anos 70, ate os dias de hoje. A must read for everyone interested in doing business in Brazil. Hopefully it will be translated to english. Bom By Augusto de oliveira Livro bom. Excelente, um exemplo para todos Sonho Grande Em Portugues do Brasil.
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